domingo, 21 de novembro de 2010

Entrevista

A professora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida reforça que o uso das tecnologias na educação requer uma formação qualificada dos docentes. Por Ana Luiza Basilio

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida atua com a formação de professores para o uso de tecnologias na educação desde a década de 80, época em que lecionava na Universidade Federal de Alagoas. A docente relata que embora já existissem softwares educativos para uso em sala de aula, “eles eram bastante restritos em relação ao potencial de aprendizagem e não eram muito amigáveis, ou seja, implicavam em algumas dificuldades de aprendizagem”. Esta constatação levou a profissional ao encontro das pesquisas. “Era preciso entender como se dava a apropriação de tais ferramentas pelos professores e, mais que isso, entender o universo deles e, a partir daí, ajudá-los a compreender as potencialidades pedagógicas das ferramentas”.

As investigações sobre o tema não cessaram e, além de colecionar títulos de mestre e doutora, Maria Elizabeth atua como docente no Programa de Pós-Graduação em Educação pesquisando sobre Novas Tecnologias em Educação.

Em entrevista ao NET Educação, a profissional ressalta os benefícios do uso da tecnologia na educação e reforça: “é indispensável uma formação qualificada, que prepare o professor para a prática tendo como eixo as atividades pedagógicas com o uso de tecnologias e a reflexão sobre elas”.
NET Educação - A que se refere o termo novas tecnologias? Quais ferramentas estão inseridas no conceito?
Chamamos novas tecnologias as tecnologias digitais de informação e comunicação e as novas ferramentas e interfaces que estão sempre surgindo. Um exemplo é a internet, tecnologia digital para a qual convergem várias mídias. No entanto, é importante frisar que as novas tecnologias não pretendem excluir as mídias convencionais. O grande desafio é saber entender a especificidade de cada uma delas para integrá-las de acordo com os objetivos pedagógicos vigentes.

NET Educação - O uso das mídias e das tecnologias na educação sempre gerou polêmica. Como você vê essa questão?
Independente da época, as críticas sobre as mídias e tecnologias sempre existiram. Isso vem desde o tempo das revistas em quadrinhos, passando pela televisão até o computador. A meu ver, o problema ainda é o mesmo, ou seja, há uma grande oferta de conteúdos, com coisas mais interessantes, menos interessantes e ruins em vários aspectos. Por isso a importância da conscientização sobre os valores, a ética e a estética tanto na formação dos professores, como no ambiente familiar, pois são esses pilares que ajudam a desenvolver o senso crítico e a autonomia no uso das tecnologias.

NET EDUCAÇÃO – Quais são os pontos positivos do uso das mídias e tecnologias na educação?
A partir dessa aproximação das mídias e tecnologias com a educação, podemos trabalhar com as linguagens das novas gerações, provenientes da sociedade tecnológica e digital. Mesmo as classes populares têm contato com as tecnologias, seja em casa, na escola, na lan house ou na rua com os colegas. O que talvez não esteja claro para a sociedade e também para as escolas é como utilizar tais tecnologias em benefício do ensino e da aprendizagem. Outra questão importante é que, a partir do momento em que as tecnologias estão presentes na educação, estamos contribuindo para a inclusão digital da sociedade.
Também devemos considerar as novas formas de aprender e de ensinar oferecidas a partir dessa integração. Note que não se trata de informatizar o ensino, mas de desenvolver processos de ensino e de aprendizagem que facilitem a compreensão do aluno.

NET EDUCAÇÃO – Há pontos negativos?
O excesso se configura como um ponto negativo a partir do momento em que as pessoas começam a se esconder atrás das mídias e tecnologias, no sentido de viver em função delas, e não buscar uma convivência real - a chamada substituição dos mundos. Cabe não só à escola, mas também às famílias, a abordagem de limites para uma utilização saudável.

NET EDUCAÇÃO - As mídias e as tecnologias estão plenamente inseridas no dia a dia escolar?
Não dá para dizer que estão plenamente inseridas, mas em um processo de desenvolvimento, em que ainda há muito que se fazer. É um processo. Para se ter uma ideia, lidamos tanto com professores que precisam se apropriar das tecnologias para então as incorporarem à prática pedagógica, como com os que já desenvolvem atividades com o uso de tecnologias como uma ilustração da aula, e também com aqueles que realizam práticas inovadoras com o uso de tecnologias e que podem atuar como parceiros mais experientes dos colegas iniciantes.

O fato é que a tecnologia está chegando à escola, mas só isso não resolve. É preciso uma mudança de cultura para que as instituições escolares se tornem inseridas na sociedade digital. O trabalho que se faz hoje é para que os professores integrem a tecnologia ao desenvolvimento do currículo e não mais a encarem como algo isolado, uma atividade extra ou como ensino sobre tecnologia. Estamos tratando do uso de tecnologias para aprender com elas e não apenas aprender sobre elas. Afinal, as novas gerações já dominam as tecnologias, mas é preciso ajudar as crianças e jovens a aprender e pensar sobre o aprender, para que desenvolvam a autonomia sobre a própria aprendizagem daquilo que necessitam para viver e trabalhar na sociedade digital caracterizada por contínuas mudanças.

NET EDUCAÇÃO - Como você avalia a formação dada aos professores? O caminho é preparar apenas o professor?
O caminho é preparar a escola como um todo, incluindo a comunidade escolar e seu entorno , assim como as famílias para que possam entender e participar do esforço de transformação da escola e de sua integração à sociedade digital.

NET EDUCAÇÃO – Como o Brasil está diante do uso das mídias e tecnologias no ensino aprendizagem? Há países que se destacam nesta área?
O Brasil tem um projeto de formação de educadores considerado inovador, caracterizado pela formação contextualizada na realidade da escola e na sala de aula. Nosso maior desafio é atingir a todos, isto é, por mais que já se tenha feito em termos de inserção das tecnologias digitais na escola e de formação de educadores, ainda há um longo caminho a ser percorrido para atingir a universalidade. Mas é preciso compreender que a mudança não é apenas de método, é de concepções e paradigma, o que demanda um tempo muito maior para se concretizar. A par disso, há uma mobilidade docente que dificulta os avanços.

Há projetos inovadores de integração de tecnologias na educação em diferentes países e níveis educativos, mas em um olhar mais macro há grandes diferenças nos avanços entre os países e entre escolas de um mesmo país. O que há em comum é a certeza de que nos encontramos em um processo de mudança sem volta, é preciso continuar investindo nesse campo e a formação do professor deve ter como eixo seu espaço de trabalho e sua prática pedagógica com o uso de tecnologias com seus alunos.

http://www.neteducacao.com.br/portal_novo/?pg=artigo&cod=1645